quarta-feira, 23 de julho de 2008

Loucura e Burrice


Há pessoas que confundem inteligencia com instrução, instrução com cultura, telefone com saxofone.

Eu odeio a burrice. Alias, à medida que estou envelhecendo cada vez mais odeio a burrice. Burrice nada tem com cultura. Uma pessoa pode ser muito culta e, ao memso tempo burra. Uma coisa não tem nada com a outra. O contrario também pode ocorrer, ou seja, uma pessoa profundamente inteligente pode não ter cultura nenhuma. Ou instrução. A inteligência é a capacidade de ver dentro as coisas, de penetrá-las, de aprendê-las.

Há pessoas que podem estudar a vida inteira, receber a maior soma de conhecimentos e não têm capacidade de criar situações, de raciocinar, de discutir e apresentar soluções.

A pessoas inteligente ´pe aquela que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir.

Ao longo da vida da gente, quantas pessoas encontramos com aquela capacidade de pensar, de refletir, com aquele saber de vida que na escola jamais daria.

Eu me lembro de uma historia que Augusto Frederico schimidt costumava contar de um amigo.

Vinha o seu amigo de automovél, quando, quase à porta de um manicônio, o pneu estourou. Saltou do carro, apanhou o macaco, levantou, tirou as porcas da roda e jogou-as dentro da calota que pusera ao lado.

Chovia muito; isto não obstante, observava-o do lado do muro um pouco.

Passava, tirando um fino, em grave velocidade, um automóvel cuja roda traseira atropela a calota, jogando longe as porcas. O amigo de Schimidt se viu, a seguir, de mãos dentro da lama procurando as porcas de sua roda. Desesperado por não encontrá-las, senta-se desolado no meio-fio. Ai é que acontece o inesperado. Do alto do muro, vem aquela voz grave e soturna.

- Ei, meu chapa! não sabe sair desta?

- Tem jeito,companheiro? como vou colocar a roda com o pneu sem as porcas que sumiram?

- Ó ignorante (gritou o loco), cada roda tem quatro porcas. você tem ai três rodas montadas no carro, cada uma com quatro porcas. Tira uma porca de cada roda e cai embora que três porcas são suficiêntes.

Assim fez o amigo do poeta e pôde sair da dificuldade. Antes de partir, ainda perplexo, resolvel perguntar ao louco:

- Você é louco?

- Sim, sou. Mas não burro.

Naverdade, o que há por esse mundo agora é muita gente que não é louca.


(MACEDO, Walmirio. Eu e não-eu. Rio de Janeiro: Presença, 1982. p. 57-58.)

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